As metáforas atribuídas a Deus em Hebreus
AS METÁFORAS ATRIBUÍDAS A DEUS EM HEBREUS
INTRODUÇÃO
A carta aos Hebreus destinou-se aos cristãos vindos do judaísmo, provavelmente sacerdotes convertidos e agora tentados a voltar para o judaísmo. As passagens exortatórias mostram que o escritor tem em mente o perene perigo a que estão expostos os judeus que tem professado a fé cristã. Ao deixar de lado esta nova fé estarão deixando de gozar da verdadeira fé em Jesus Cristo, já por eles experimentada.
Ela confirma a fé aos judeus cristãos, demonstrando-os que o judaísmo chegou ao fim, ao cumprir Cristo todo o propósito da Lei.
A Epístola aos Hebreus é rica em metáforas atribuídas a Deus. Ao consultarmos o dicionário descobrimos que segundo o Prof. Francisco da Silveira Bueno, Catedrático emérito de Filologia Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, diz que “metáfora” quer dizer: – “Tropo em que a significação natural de uma palavra é substituída por outra em virtude de certa relação de semelhança”.
A Epístola aos Hebreus é rica na utilização de nomes metafóricos para Deus, pelo que vamos apresentar, as metáforas tanto diretamente como indiretamente atribuídas em substituição ao vocábulo “Deus”.
As metáforas atribuídas a Deus tiveram como base a revelação e a comunicação de Deus ao homem, falando antigamente aos pais pelos profetas e a geração presente por meio de Seu Filho, expressando os Seus atributos e a Sua forma de agir através da história.
AS METÁFORAS
O vocábulo “Deus” é mencionado 3.878 vezes na Bíblia. Em Hebreus são 75 citações, que denotam que o autor é um profundo conhecedor do Antigo Testamento, fazendo inúmeras referências ao seu texto para enfatizar os seus argumentos. Trata do conhecimento e da entrada no repouso de Deus. Deste modo, é evidente que Seu nome e seus feitos seriam mencionados diversas vezes, como o fez o autor aos Hebreus.
Já o vocábulo “Senhor” é mencionado na Bíblia 6.796 vezes, destas 16 vezes em Hebreus. Não a consideramos como metáfora, porque não é uma particularidade de Hebreus, motivo pelo qual não vai constar em nosso quadro de metáforas.
Desde o Antigo Testamento que o vocábulo “Senhor” é atribuído a Deus como um de seus nomes, sendo que a maioria das citações no Novo Testamento referem-se a Jesus contudo em Hebreus apenas três referem-se a Jesus (Heb 2:3, 7:14 e 13:20), as demais referem-se a Deus (Heb 1:10, 7:21, 8:2, 8:8, 8:9, 8:10, 8:11, 10:16, 10:30, 12:5, 12:6, 12:14, 13:6).
Deste modo nós vamos enumerar no quadro a seguir o texto de Hebreus onde se encontra a citação, a metáfora ou nome atribuído a Deus e a parte literal do texto onde está a citação, bem como a ênfase que reforça ou justifica a metáfora.
HEBREUS METÁFORA/NOME TEXTO/EXPLICAÇÃO
1:1 Deus
12:19
12:25 Deus que fala “…antigamente falado muitas vezes…” . Logo, Deus é um Deus que fala.
HEBREUS METÁFORA/NOME TEXTO/EXPLICAÇÃO
1:3 Majestade
8:1 Rei
10:28 Jesus “…assentou-se a destra da majestade nas alturas”. Logo, Majestade é uma metáfora atribuída a Deus. Podemos acrescentar por analogia que Deus é Rei. Jesus veio estabelecer o Reino de Deus. Majestade é um tratamento dado aos reis. Quem é majestade é rei. Todo rei tem um trono onde se assenta. Deus tem um trono. Logo Deus é Rei.
1:5 Pai
1:13 Deus que diz
Embora a citação de Salmos 2:7, não seja uma idéia do autor aos Hebreus, foi um ótimo argumento para sua carta. “Eu lhe serei por Pai e Ele me será por Filho”. Pai é uma metáfora para Deus mencionada muitas vezes na Bíblia. “…a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho”. Logo, Deus é um Deus que diz.
1:7 Deus de anjos
10:27 Deus de ministros
Deus de ventos
Deus de fogo
Neste texto está implícito que Deus tem sob o seu domínio anjos. Logo, Deus é um Deus de anjos. Deus também tem sob as suas ordens ministros. Logo, Deus é um Deus de ministros. Deus tem um ministério que é colocado à disposição dos santos. Dos anjos faz ventos e dos ministros labaredas de fogo. Logo, Deus é um Deus de ventos e um Deus de fogo.
1:8 Deus eterno
Deus de equidade
“…o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos”. Logo, Deus é Eterno. “Cetro de equidade é o cetro do teu reino”. Logo, Deus é Deus de equidade.
2:4
Deus de sinais
Deus de maravilhas
Deus de dons
“Testificando também Deus com eles , por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo…”. Logo, Deus é Deus de sinais, de maravilhas e de dons.
2:6
Deus que lembra
Deus que visita
“Que é o homem, para que dele te lembres? ou o filho do homem para que o visites?” Logo, Deus é um Deus que lembra e é um Deus que visita.
3:4
Deus que edifica “…mas o que edificou todas as coisas é Deus”. Logo, Deus é um Deus que edifica.
3:11
6:13 Deus que jura “…assim jurei na minha ira…” Deus é um Deus que jura.
3:12; 9:14
10:31; 12:22
Deus é vivo “…para se apartar do Deus vivo”. Logo, Deus é um Deus vivo.
3:18
4:9
4:10
Deus de repouso “…que não entraria no seu repouso”. Logo Deus é um Deus de repouso.
4:4 Deus que repousa “…e repousou Deus te toda a sua obra…” Logo, Deus é um Deus que repousa.
4:3 Deus de obras “…embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo”. Logo, Deus é um Deus de obras.
4:12
Deus de palavra viva
Deus de palavra eficaz
Deus de palavra penetrante
Deus de palavra discernente
“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante… apta para discernir”. Logo, Deus é um Deus de palavra viva, de palavra eficaz, de palavra penetrante e de palavra que discerne.
4:13 Deus onisciente “…não há criatura alguma encoberta diante dele… todas as coisas estão nuas e patentes aos seus olhos”. Logo, Deus é um Deus onisciente.
4:16
12:15
Deus de misericórdia
Deus de graça
“Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos achar misericórdia e achar graça”. Logo, Deus é um Deus de misericórdia e de graça.
5:7
Deus que livra da morte
“…orações e súplicas ao que podia livrar da morte…” Logo, Deus é um Deus que livra da morte.
5:13
Deus de palavra de justiça
“…experimentado na palavra da justiça”. Logo, Deus é um Deus de palavra de justiça.
6:5
Deus de palavra boa
“…e provaram a boa palavra de Deus”. Logo, Deus é um Deus de palavra boa.
6:7
Deus de benção
“…recebe a benção de Deus”. Logo, Deus é um Deus de benção.
6:8
Deus que reprova
Deus que queima
“Mas a que produz espinhos e abrolhos é reprovada… o seu fim é ser queimada”. Logo, Deus é um Deus que reprova e que queima.
6:10
Deus é justo
“Porque Deus não é injusto…”. Logo, se Deus não é injusto, por analogia Deus é justo”.
6:12; 9:15
10:36; 11:9
11:36;11:39 Deus de promessas
“…pela fé e paciência herdam as promessas”. Promessas de Deus. Logo, Deus é um Deus de promessas.
6:14
Deus que multiplica
“…multiplicando de multiplicarei”. Logo, Deus é um Deus que multiplica.
6:17
Deus de conselho imutável
Deus que faz juramento
“…a imutabilidade de seu conselho… se interpôs com juramento”. Logo, Deus é um Deus de conselho imutável e que faz juramento.
6:18
Deus que não mente
“…é impossível que Deus minta”. Logo, Deus é um Deus que não mente.
7:1
Deus de sacerdotes
Altíssimo
“…sacerdote do Deus Altíssimo”. Logo, Deus é um de sacerdotes e é Altíssimo.
7:21
Deus que não se arrepende
“Jurou o Senhor, e não se arrependerá”. Logo, Deus é um Deus que não se arrepende.
8:5
Deus que modela
Deus arquiteto
“…faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou”. Logo, Deus é um Deus que modela. É um Deus arquiteto.
8:8
Deus que faz novo concerto
“…com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto”. Logo, Deus é um Deus que faz novo concerto.
8:10
10:16
Deus que põe leis
Deus que escreve no coração
“…porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei”. Logo Deus é um Deus que põe leis e que escreve no coração.
8:11
Deus conhecido
“…porque todos me conhecerão…”. Logo, Deus é um Deus conhecido.
8:12
10:17
Deus misericordioso
Deus que esquece pecados
“…serei misericordioso… e de seus pecados não me lembrarei mais”. Logo, Deus é um Deus misericordioso e que esquece pecados.
9:20
Deus de testamento
“…sangue do testamento que Deus tem mandado”. Logo, Deus é um Deus de testamento.
9:24
Deus de face
“…comparecer por nós perante a face de Deus”. Logo, Deus é um Deus de face.
9:27
10:27
10:30
Deus de juízo
“…ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”. Logo, Deus é um Deus de juízo. Que julgará.
10:6
10:8
Deus que não se agrada de holocaustos e oblações
“Holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram”. Logo, Deus é um Deus que não se agrade de holocaustos e oblações.
10:7; 10:9
10:36 Deus de vontade “…para fazer, ó Deus a tua vontade”. Logo, Deus é um Deus de vontade.
10:12
12:2 Deus de destra “…está assentado para sempre à destra de Deus”. Logo, Deus é um Deus de destra.
10:21
Deus de casa “…sobre a casa de Deus”. Logo, Deus é um Deus que tem casa.
10:23
Deus é fiel “…porque fiel é o que prometeu.” Deus é um Deus fiel.
10:27
Deus que devora adversários
“…que há de devorar os adversários”. Logo, Deus é um Deus que devora adversários.
10:29
Deus que santifica
“…do testamento, com que santifica…”. Logo, Deus é um Deus que santifica.
10:30
11:26
13:4
Deus que vinga
Deus que recompensa
Deus que julgará
“…Minha é a vingança, eu darei a recompensa… O Senhor julgará o seu povo”. Logo, Deus é um Deus que vinga, que recompensa e que julgará.
10:34
Deus de posses
“…tendes nos céus uma possessão melhor e permanente”. Deus é um Deus de posses.
10:35 Deus de galardão “…tem grande e avultado galardão”. Logo, Deus é um Deus de galardão.
10:38
Deus que tem alma
“…a minha alma não tem prazer”. Logo, Deus é um Deus que tem alma.
11:3 Deus que cria mundos “…os mundos pela palavra de Deus foram criados”. Logo, Deus é um Deus que cria mundos”.
11:4
Deus que dá testemunho
“…dando Deus testemunho dos seus dons”. Logo, Deus é um Deus que dá testemunho.
11:5
Deus que traslada
Deus que se agrada
“…não foi achado, porque Deus o trasladara… que agradara a Deus”. Logo, Deus é um Deus que traslada e que se agrada.
11:6
Deus é galardoador
“…e que é galardoador dos que o buscam”. Logo, Deus é um Deus galardoador.
11:8
Deus que chama
“Pela fé Abraão sendo chamado…”. Logo, Deus é um Deus que chama.
11:10
Deus é artífice
Deus é construtor
“…da qual o artífice e construtor é Deus”. Logo, Deus é artífice e construtor.
11:16
Deus que não se envergonha
Deus que prepara
“…Deus se não vergonha deles… porque já lhes preparou uma cidade”. Logo, Deus é um Deus que não se envergonha e que prepara.
11:17 Deus que prova “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado…”. Logo, Deus é um Deus que prova.
11:18
11:35
13:20
Deus poderoso
Deus que ressuscita mortos
“…considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar”. Logo, Deus é Deus poderoso e que ressuscita mortos.
11:25
Deus que tem um povo
“…com o povo de Deus…”. Logo, Deus é um Deus que tem um povo.
12:5
12:6
Deus que corrige
Deus que repreende
“…não desprezes a correção do Senhor, …quando por ele fores repreendido”. Logo, Deus é um Deus que corrige e repreende.
12:6
Deus que açoita
“…e açoita a qualquer que recebe por filho”. Logo, Deus é um Deus que açoita.
12:9
Pai dos espíritos
“…Pai dos espíritos para vivermos?”. Logo, Deus é Pai dos espíritos.
12:10
Deus de santidade
“…para sermos participantes da sua santidade”. Logo, Deus é um Deus de santidade.
12:21 Deus que assombra
Deus que faz tremer “…Estou todo assombrado, e tremendo”. Logo, Deus é um Deus que assombra e que faz tremer.
12:23
Deus o juiz “…e a Deus, o juiz de todos…”. Logo, Deus é um Deus juiz.
12:29
Deus é um fogo consumidor
“Porque o nosso Deus é um fogo consumidor”. Logo, Deus é um fogo consumidor.
13:5
Deus que não deixa
Deus que não desampara
“…Não te deixarei, nem te desampararei”. Logo, Deus é Deus que não deixa e que não desampara.
13:6
Deus ajudador
“O Senhor é o meu ajudador…”. Logo, Deus é um Deus ajudador.
13:15
Deus de sacrifício de louvor
“…ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor…”. Logo, Deus é um Deus de sacrifício de louvor.
13:16
Deus da beneficência
Deus da comunicação
“…da beneficência e comunicação, porque com tais sacrifícios Deus se agrada. Logo, Deus é um Deus da beneficência e da comunicação.
13:20
Deus de paz “Ora o Deus de paz”. Logo, Deus é Deus de paz.
13:21 Deus que aperfeiçoa “Vos aperfeiçoe em toda a boa obra…”. Logo, Deus é um Deus que aperfeiçoa.
CONCLUSÃO
Nós vimos que são muitas as metáforas diretas e indiretamente atribuídas a pessoa de Deus. Todas estas citações enriquecem bastante o conteúdo desta obra, que teve como objetivo geral, demonstrar que Jesus cumpriu amplamente todas as mais sublimes concepções da religião e é infinitamente superior a qualquer predecessor.
Os cristãos judeus devem compreender que Cristo cumpriu e superou todas as antigas ideias deles e, portanto, não devem recair na antiga religião judaica. Pelo fato de a nova aliança ter sido estabelecida com uma visita pessoal de Deus à terra, ela é infinitamente mais importante do que a antiga aliança da lei. Assim, aqueles que pertencem a Cristo têm não só o enorme privilégio de conhecer a Deus, mas também a imensa responsabilidade de servi-lo com lealdade.
Em Hebreus, Deus se identifica com o homem. Todos os que desejam conhecer a Deus e gozar de perfeita comunhão com Ele, devem se dedicar ao estudo desta magnífica carta, assimilando e estreitando o conhecimento destas metáforas.
Augusto Bello de Souza Filho
Bacharel em Teologia