O dia vai clarear
(João 21.1-8)

“Quanto a mim, confio em ti, Senhor. Eu disse: Tu és o meu Deus. Nas tuas mãos estão os meus dias” (Sl 31.14-15).

Pedro e os demais discípulos assistiram milagres e maravilhas realizados por Jesus. Tais sinais não davam margem para dúvidas. Eles, com os olhos carnais, viam que Jesus era realmente o Messias tão esperado. Observando a caminhada de Pedro – este discípulo em especial, podemos aprender coisas maravilhosas.
Jesus falava muito sobre sua morte e ressurreição e diz as Escrituras que os discípulos não entendiam (Mc 9.32, Lc 9.45;18.34). Não lhes era possível entender como o Filho de Deus passaria pela morte. Eles sabiam que Jesus era o Messias enviado para a salvação dos judeus, Ele não podia morrer! Para aqueles que andavam com Jesus e presenciavam tantos milagres, chegou um terrível dia: Jesus foi preso, humilhado e crucificado. Quanta decepção! Jesus morreu! Acabou! E não foi uma morte qualquer, foi morte de cruz! Ele foi moído, foi açoitado! Aquele que tinha ressuscitado tantas vidas, que tinha curado tantos homens e mulheres, que tinha andado sobre o mar, tinha acalmado a tempestade, agora estava ensangüentado numa cruz. Morto, sem vida! Os corações dos discípulos estavam sem esperança, porque a esperança estava crucificada.
Quando paramos para pensar um pouco sobre toda esta situação, e nos colocamos no lugar de Pedro, de certa forma podemos entender porque ele negou a Jesus. Seu coração antes tão apaixonado estava completamente desiludido. Provavelmente, Pedro seguiu Jesus até a casa do sumo sacerdote porque sabia que Ele, a qualquer momento, poderia se libertar. Mas as horas se passaram e Jesus continuava preso, manietado. Quando Pedro nega Jesus, ele demonstra sua desilusão.
Graças a Deus por seu Espírito em nós nos revelando coisas profundas e ocultas. Hoje, temos à nossa disposição toda a Bíblia, este livro maravilhoso que nos traz esperança, consolo e fé. Mas Pedro tinha fé porque via Jesus fazendo maravilhas, porque ouvia Jesus falar, porque viu Jesus conversar com Elias e Moisés. Mas de repente parece que tudo acabou, a fonte de poder parou de jorrar, a fonte estava presa! Acredito que Pedro não tinha a seu dispor palavras encorajadoras como: “Ainda que a figueira não floresça…” (Hc. 3:17-19). Pedro não tinha o Espírito Santo consolando, orientando, animando o seu coração. Que deserto! Por isso podemos entender, de certa forma, a negação de Pedro e seu choro amargo, fruto de um coração em conflito: “Eu amo Jesus, mas onde ele está? Este Jesus que prenderam não pode ser Ele! Se até a morte o obedece, como conseguem mantê-lo preso?”. Não podemos imaginar a angústia desse coração.
Considerando as devidas proporções, quantas vezes nos encontramos na mesma situação de Pedro? Sabemos que o Senhor é poderoso, sabemos que Ele é Deus e faz o que quer, quando quer e com quem quiser. Mas nossos problemas continuam sem solução.
Outras vezes esperamos uma promessa de Deus, e quando pensamos que está perto de se realizar, percebemos que ainda não é chegada a hora. Nossa alma recusa consolar-se (Sl 77.2), achando que Deus não se importa e não vê nossa angústia, nossa dor. Aquele que tem poder para ressuscitar vidas se mantém inativo, como um mortal, diante de nosso sofrimento. O desanimo e a desilusão querem tomar conta de nosso coração. Mas pelas misericórdias do Senhor, o seu Espírito nos mantém de pé e nos ajuda a dar mais um passo, mesmo quando o homem natural quer negar a caminhada e parar de seguir O Mestre.

“Estou aflito e mui quebrantado; dou gemidos por efeito do desassossego do meu coração. Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a minha ansiedade não te é oculta. Bate-me excitado o coração, faltam-me as forças, e a luz dos meus olhos, essa mesma já não está comigo” (Sl. 38.8-10).

Nos calamos atemorizados diante das provações, esperando que alguma coisa aconteça. Entramos num barco e vamos pescar, nos distrair para ver se o tempo passa até a promessa chegar. Jesus fica em silêncio. A noite passa e cansados da pescaria, o dia começa a clarear porque o choro não pode durar mais que uma noite, é uma promessa de Deus! O dia vem para clarear! Na escuridão da noite não enxergamos Jesus na beira do mar de Tiberíades nos observando pescar. O silêncio é rompido, Ele quer nos alegrar, mostrar que está por perto! Nos diz como devemos pescar. Ele nos ensina, mas nem percebemos o seu atuar. Nosso coração está cego diante de promessas que parecem demoradas, queremos coisas grandes sendo cumpridas. Até que nos damos conta que Jesus é quem está na praia, esperando nossa companhia. Meu Deus, quanta alegria!!! Tornamos a vestir nossas vestes de simples discípulos e mergulhamos desesperadamente na água, correndo para aquele que é nossa esperança.

“E eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança” (Sl. 39.7).

Nestas horas difíceis, Deus quer nos ensinar a crer como Abraão que esperou contra a esperança (Rm 4.18). Mesmo crendo que o Senhor é poderoso para cumprir o que prometera e que Ele cumprirá porque Deus é fiel, precisamos crer que Jesus não nos abandonará. Mesmo que estejamos na tempestade ou no deserto. Mesmo que estejamos a chorar na noite escura. O dia vai clarear para nos mostrar a sua divina presença a nos guardar. Ele espera que o percebamos em meio às situações de desilusão e de desesperança.
“Porque, quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele” (II Cr 16.9).

As Escrituras não nos revelam o que Jesus e Pedro conversavam enquanto os discípulos se aproximavam com o barco. Naquele momento, Pedro não precisava ver milagres, nem ouvir palavras de orientação divina. Pedro precisava apenas ficar perto de Jesus. Nem sempre é importante conversar, às vezes basta saber que Jesus está presente. Saber que Ele está ao nosso lado é o bastante. Se estamos esperando, sentados ao lado dele na praia, seu silêncio também é confortante.
Em meio à angústia que só Deus entende, saber apenas que Ele está presente, me é suficiente.

“…bem sei isto: que Deus é por mim. Em Deus, cuja palavra eu louvo, no Senhor, cuja palavra eu louvo, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei” (Sl. 56.9-11).

Fabiane Rocha Bello

Ig. Batista Adonai – Salvador