Quem eram os Patriarcas?

Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, patriarca é: ¾ “Chefe de família, entre os povos antigos, principalmente os do Antigo Testamento. Venerando cercado de família numerosa. Chefe de família exemplar”.
No Dicionário Bíblico Universal, publicado pela Editora Vida, diz-nos que: ¾ “Patriarcas são Príncipes, chefes de família ou de tribos. O termo foi aplicado com um sentido especial no Novo Testamento a Abraão, Isaque, Jacó, aos filhos de Jacó e a Davi. No Antigo Testamento a expressão equivalente é em geral “príncipe da tribo”. Mas o título é, ordinariamente, dado àqueles que viveram antes do tempo de Moisés. Sob o regime patriarcal o pai de família, ou chefe de tribo, tinha autoridade suprema sobre seus filhos e servos. Ele não tinha que dar contas dos seus atos a qualquer superior terrestre, e por isso podia recompensar ou castigar, segundo a sua maneira de ver. Encontra-se isto inteiramente exemplificado nas vidas de Abraão, Isaque e Jacó. Cada um exercia a sua autoridade com poder absoluto, e, como nos casos de Israel, Esaú, Jacó, Simeão e Levi, procediam os patriarcas mais segundo os seus sentimentos pessoais do que em virtude de qualquer estabelecido código de leis. É claro que na proporção em que os patriarcas possuíam o temor de Deus, o seu governo havia de exercer-se com justiça e bondade, mas onde faltava esse sentimento religioso, haveria opressão, violência e injustiça”.
Ao recorremos a leitura do Novo Testamento constatamos a veracidade das informações, a partir do livro de Atos quando a denominação é atribuída a Davi pelo apóstolo Pedro em seu discurso: ¾ “Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura (Atos 2:29).
Mais adiante, Lucas relata que o apóstolo Pedro pregando no templo menciona Abraão, Isaque e Jacó como nossos pais: ¾ “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Servo Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, quando este havia resolvido soltá-lo” (Atos 3:13)..
Em Atos 5:30, o apóstolo Pedro e os demais apóstolos se referem implicitamente a Abraão, Isaque e a Jacó, ao se defenderem de seus acusadores, dizendo: ¾”O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro”.
Em Atos 7:11, o apóstolo Paulo, explicando o evangelho, se detém em contar acerca da grande fome que fez com que Jacó enviasse seus filhos ao Egito para comprar alimentos. Dentre estes filhos de Jacó estavam ausentes José porque já estava no Egito (Gênesis 1:5) onde foi nomeado Governador pelo Faraó e que foi o instrumento de Deus para matar a fome de seus irmãos e cumprirem-se as promessas feitas a seu pai (Jacó), seu avô (Isaque) e a seu bisavô (Abraão); e Benjamim, que era o irmão mais novo e havia ficado com seu pai (Jacó) (Gênesis 42:4). Na segunda viagem Benjamim foi também ao Egito para cumprir-se uma ordem de José: ¾”Tomaram, pois, os homens aquele presente, e dinheiro em dobro nas mãos, e a Benjamim; e, levantando-se desceram ao Egito e apresentaram-se diante de José” (Gênesis 43:15)..
Segundo a narrativa de Lucas, no sermão de Estevão, este mencionou os irmãos de José como pais ou patriarcas: ¾ “E deu-lhe o pacto da circuncisão; assim então gerou Abraão a Isaque, e o circuncidou ao oitavo dia; e Isaque gerou a Jacó, e Jacó aos doze patriarcas” (Atos 7:8). ¾ ”Sobreveio então uma fome a todo o Egito e Canaã, e grande tribulação; e nossos pais não achavam alimentos” (Atos 7:11). E ainda, em Atos 7:12 os pais são enviados ao Egito em busca de alimentos.
Deste modo os doze filhos de Jacó fazem parte no rol dos patriarcas e ao examinarmos o Antigo Testamento constatamos que foram estes patriarcas que deram nomes as Tribos de Israel que tomaram posse cada um de sua parte na divisão das terras de Canaã após a conquista por Josué, e são eles: Rubem, Simeão, Issacar, Dã, Gade, Aser, Judá, Benjamim, Nebulom, Naftali, José e Levi (Gênesis 49:1-28).
Jacó e seus filhos morreram no Egito: ¾”Jacó, pois, desceu ao Egito, onde morreu, ele e nossos pais (Atos 7:15; Gênesis 49:33; Êxodo 1:6).
O Novo Testamento não destaca outros patriarcas posteriores a descendência de Jacó (Israel), que assim possa ser cognominado. Estevão, denomina os homens que conquistaram a terra de Canaã como pais de seu povo: ¾”…o qual nossos pais, tendo-o por sua vez recebido, o levaram sob a direção de Josué, quando entraram na posse da terra das nações que Deus expulsou da presença dos nossos pais, até os dias de Davi” (Atos 7:45). Esta conotação não é mais a mesma atribuída aos patriarcas mencionados anteriormente. Estes pais são bem diferentes, senão vejamos os textos a seguir: ¾”Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; como o fizeram os vossos pais, assim também vós.” (Atos 7:51). ¾ “A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e homicidas” (Atos 7:52). O apóstolo Paulo escrevendo aos Coríntios refere-se ao povo hebreu no deserto como nossos pais: ¾ “Pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar” (I Coríntios 10:1). Deus também tratou o seu povo como pais do povo ¾ “…onde vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram por quarenta anos as minhas obras” (Hebreus 3:9).
A única semelhança que estes pais guardam com os patriarcas se limitaram ao benefício das bençãos prometidas aos autênticos patriarcas: Abraão, Isaque, Jacó e seus doze filhos que ficaram sepultados no Egito, com exceção dos restos mortais de José que foram levados para Canaã por ocasião do êxodo conforme seu pedido (Gênesis 50:24-26; Êxodo 13:19; Hebreus 11:22). Assim todos os pais e todo o povo escolhido tinham herança ao beneficiarem-se das bênçãos prometidas aos patriarcas, mas já não tinham mais este título nobre.
A última menção aos patriarcas no Novo Testamento foi feita pelo autor do livro aos Hebreus destacando o nome de Abraão quando de seu encontro com o Sacerdote Melquisedeque a quem deu o dízimo dentre os melhores despojos. ¾ “Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu o dízimo dentre os melhores despojos (Hebreus 7:4)”.
Quando Deus chamou Abraão do meio do seu povo para possuir uma terra, dizendo que faria dele uma grande nação e que ele seria uma bênção para todas as famílias da terra, estava sendo chamado o primeiro patriarca. (Gênesis 12:1-3). Quando o filho de Abraão e Sara nascer se tornará o segundo patriarca na hierarquia da aliança feita com Abraão (Gênesis 17:21).
Jacó testificando da aliança que Deus fez com seus pais, invoca a Deus e menciona os nomes de seu avô e de seu pai, os patriarcas Abraão e Isaque (Gênesis 32:9).
Em Gênesis 35:12, Deus confirma a aliança feita com os pais prometendo a Jacó e a sua descendência a terra que havia dado a Abraão e a Isaque. Jacó torna-se então o terceiro patriarca nomeado por Deus por meio das promessas a seus pais e estende o título a seus filhos que se tornam os demais patriarcas.
Em Gênesis 48:15 Jacó abençoa a José mencionando os nomes de Isaque e de Abraão com os quais Deus tinha feito a aliança.
Em Gênesis 50:24 José fala com seus irmãos acerca das promessas a Abraão, Isaque e Jacó.
Estes dois últimos textos de Gênesis deixam claro que os filhos de Jacó por hereditariedade herdaram também o título de patriarcas. Inúmeros outros textos no Antigo Testamento testificam das promessas aos pais, principalmente quando Deus se apresentava a Moisés, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Deus na verdade estava dizendo: Eu sou o Deus que fez aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. (Êxodo 2:24; 3:6; 4:5; 6:3; 6:8; 33:1; Levítico 26:42; I Crônicas 29:18). Em todo o Antigo Testamento encontramos textos que retratam o relacionamento entre Deus e os patriarcas (pais) e a sua descendência (até os filhos de Jacó) conforme o texto de Lucas em Atos (Deuteronômio 1:8). E por conseqüência a todo o povo de Israel.
O único patriarca mencionado no Novo Testamento que é bem posterior aos filhos de Jacó é o Rei Davi (Atos 2:29). E um dos patriarcas não mencionado explicitamente no Novo Testamento, mas que a tradição cristã tem por hábito mencioná-lo fazendo justiça é Noé. Um grande chefe de família que gozava de íntima comunhão com Deus. Foi um profeta e construtor de uma grande arca que abrigou os animais e a sua família por ocasião do dilúvio preservando a espécie humana e atendendo à vontade de Deus (Gênesis 7:1).

Augusto Bello de Souza Filho
Bel. em Teologia