AS FERRAMENTAS DA FILOSOFIA

INTRODUÇÃO

Os argumentos asseverados em cima de uma crença ou opinião, não é o suficiente para garantir a sua verdade. Sempre que desejamos saber a resposta de determinados questionamentos precisamos recorrer ao filósofo. Contudo, é possível que venhamos a nos decepcionar, uma vez que os próprios filósofos nem sempre terão uma resposta convincente, e muitas vezes estas respostas são conflitantes ou divergentes entre eles. Os pontos de vista poderão ser sustentados, a partir de como se sente cada pessoa acerca deste ponto de vista. William James chegou a afirmar que: – “nossas emoções finalmente determinam o que consideramos certo e errado”. Se isto for verdade, torna-se difícil chegar-se a verdade. Neste caso pode ocorrer que todas as respostas são igualmente adequadas, ou são igualmente inadequadas. Deste modo nenhuma idéia poderia ser chamada de verdadeira ou falsa. Contudo, essa pressuposição, é simplesmente incorreta. É verdade, que alguns problemas filosóficos têm respostas que são claramente verdadeiras. Sempre que não houver uma resposta única em uma disputa filosófica, não deve-se pressupor que por este motivo deve-se acreditar no que quiser. Algumas respostas podem ser excluídas, outras embora não sejam perfeitamente satisfatórias, são claramente mais adequadas ou mais prováveis do que outras.

1. A NATUREZA DE UM ARGUMENTO

Argumento é qualquer grupo de declarações ou proposições, uma das quais, conforme se alega, é derivada das demais. As declarações ou proposições fornecem evidência para chegar-se a conclusão. Os argumentos formam uma estrutura em que temos as premissas e a conclusão. As premissas são a evidência e a conclusão é a proposição que decorre da evidência. Exemplo:
Todos os homens são mortais. (premissa)
Sócrates é um homem. (premissa)
Logo, Sócrates é mortal. (conclusão)

2. TIPOS DE ARGUMENTO

2.1 Argumentos Indutivos

Nos argumentos indutivos as premissas dão alguma evidência para a conclusão. Um bom argumento indutivo terá uma conclusão altamente provável. Neste caso, é bem provável que a conclusão realizar-se-á ou será válida. Diz-se então que as premissas poderão ser falsas ou verdadeiras e as conclusões poderão ser válidas ou não válidas. Segundo John Stuart Mill, existem algumas regras que se aplicam aos argumentos indutivos, que são: O método da concordância, o método da diferença, e o método das variações concomitantes.
2.2 Argumentos Dedutivos

A conclusão de um argumento dedutivo será válido ou nao válido a depender das premissas que podem ser verdadeiras ou falsas. Assim, as premissas é que definem a conclusão. Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será válida. Se as premissas forem falsas a conclusão será não válida. Argumentos dedutivamente válidos sustentam-se firmemente, simplesmente em virtude da sua forma. Existem alguns conceitos centrais que são associados aos argumentos dedutivamente válidos, que são: a validade, a solidez, os argumentos conclusivos, e os argumentos fidedignos.
A “validade” tem a ver com a forma ou estrutura do argumento. As premissas num argumento válido garantem a conclusão. Exemplo:
Todos os alunos são estudantes.
Paulo é um aluno.
Logo, Paulo é um estudante.
Qualquer argumento que não tenha uma forma válida é um argumento inválido. As noções de validade e verdade são distintas. As declarações, as proposições ou as frases são verdadeiras ou falsas. As conclusões podem ser falsas ou verdadeiras, já os argumentos não podem. As declarações não podem ser válidas ou inválidas. Pode-se ter então, um argumento válido em que tanto as premissas quanto as conclusões são falsas. Pode-se ter um argumento válido com premissas verdadeiras e uma conclusão falsa.
A invalidade e a verdade se relaciona entre si de formas diferentes. Um argumento inválido pode ter premissas falsas e uma conclusão verdadeira. Um argumento inválido pode ter premissas verídicas e uma conclusão verdadeira.
A veracidade ou a falsidade das premissas e da conclusão não nos contará nada acerca da validade do argumento. A invalidade ou validade do argumento também não nos contará nada acerca da veracidade das premissas ou da conclusão. Deste modo a lógica por si só não pode determinar a verdade.
A “solidez” é um argumento sólido com premissas verdadeiras. Quando as premissas são verdadeiras e o argumento válido, a conclusão forçosamente é verdadeira. Um argumento dedutivo que deixa de estabelecer a verdade da sua conclusão é chamado de não sólido. Os argumentos inválidos ou que tenham mais de uma premissa falsa, não são argumentos sólidos.

Os “argumentos conclusivos” são tão importantes quando podem ser construídos, quanto os argumentos sólidos. A diferença entre eles é que no argumento conclusivo as premissas são verdadeiras e no argumento sólido as premissas podem ou não ser conhecidas como sendo verídicas.

Os “argumentos fidedignos” são aqueles em que o filósofo pode reunir evidencias em prol da veracidade das premissas, daí a lógica será útil em apontar a veracidade das conclusões que podem ser derivadas destas premissas.
A validade não é suficiente para garantir a veracidade de qualquer declaração, assim um argumento inválido não tem possibilidade alguma de ser sólido, conclusivo ou fidedigno.

3. A CLARESA

Para se determinar se uma proposição é falsa ou verdadeira é preciso entender o seu significado. A maioria das discórdias por exemplo é decorrente de uma pessoa não entender a posição da outra. É muito comum entrar-se num argumento sem saber-se acerca do que se está argumentando. É impossível determinar-se a veracidade ou a fidedignidade de uma declaração antes de primeiramente ter-se uma idéia do significado.

3.1 Definições

As definições declaram as condições necessárias e suficientes para o emprego das palavras. Quando define-se que um triângulo é uma figura fechada de três lados, concluímos que todas as figuras nestas condições são triângulos. Existem dois tipos de definições: as nominais e as reais.
As definições nominais especificam o significado de cada palavra e não podem ser falsas. As definições reais descrevem o grupo de propriedades possuídas por todos os membros de uma certa classe. Já estas definições podem ser falsas ou verdadeiras. As definições reais estão relacionadas com as definições pactuais. Se uma definição real não delinear apropriadamente a classe de coisas que formula, é falsa. Se delinear adequadamente é verdadeira.

3.2 Análise de Conceitos

A análise de conceitos está diretamente relacionada com a tarefa da definição. A análise da linguagem começa com o exame de definições, e com o uso das palavras na linguagem comum.

4. O MÉTODO CIENTÍFICO

A claresa é o primeiro passo para testar a veracidade ou fidedignidade de uma declaração, contudo o fato de entender-se o que uma frase significa, não quer dizer-se que ela é verdadeira. Existem alguns métodos básicos para se fixar a verdade, que tem sido usado pelo homem no decorrer da história, que são: o método da tenacidade; o método da autoridade; o método metafísico ou a priori; e o método científico. No conceito do famoso filósofo Peirce, somente o método científico é satisfatório, porque os demais na prática não funcionam.
O método científico de determinar se uma declaração é verdadeira ou fidedigna tem quatro passos: a) formular a declaração com cuidado e clareza; b) predizer as implicações de semelhante crença; c) realizar experiências controladas para confirmar ou refutar estas implicações e observar as conseqüências; e d) aceitar ou rejeitar a declaração como resultado. Alguns filósofos defendem que este método pode ser aplicado as áreas da moralidade, da estética e da religião. Outros rejeitam a aplicação de forma universal e absoluta, embora reconheçam que é de suma importância em boa parte da pesquisa empírica.

4.1 Silogismos Dedutivos

Há muitas maneiras em que um argumento dedutivo ou silogismo pode deixar de estabelecer sua conclusão. Existem um conjunto de regras que facilitam a formulação de argumentos válidos, evitando que falácias acabem por invalidar as conclusões.
As regras principais são:
1. Um silogismo categórico válido deve conter somente três termos, sendo que nenhum termo deve ser usado num sentido equívoco. Qualquer silogismo que tiver mais de três termos é inválido e diz-se que ele cometeu a Falácia dos Quatro Termos.
2. Num silogismo categórico válido, o termo central deve ser distribuído pelo menos uma vez nas premissas. Qualquer silogismo que viola esta regra, diz-se que comete a Falácia do Meio Não Distribuído.
3. Num silogismo válido, nenhum termo pode ser distribuído na conclusão se não for distribuído também nas premissas. Esta falácia é de dois tipos. Quando o termo não distribuído estiver na primeira premissa, ou a maior, a falácia é a Falácia da Premissa Principal Ilícita. Quando o termo não distribuído estiver na segunda premissa, ou a menor, a falácia é a Falácia da Premissa Menor Ilícita.
4. Nenhum silogismo categórico é válido quando tem duas premissas negativas. Assim, diz-se que qualquer silogismo que quebrar esta regra é culpado da Falácia das Premissas Exclusivas.
5. Se uma premissa de um silogismo categórico é negativa, logo, a conclusão deve ser negativa. Embora seja muito raro argumentos que quebrem esta premissa, diz-se que o silogismo nesta situação comete a Falácia de Tirar uma Conclusão Afirmativa de uma Premissa Negativa.
6. Nenhum silogismo categórico válido com uma conclusão particular pode ter duas premissas universais. A violação desta regra é chamada de Falácia Existencial.

CONCLUSÃO

A ferramenta primária do filósofo é a lógica, que trata das regras para a argumentação apropriada. A diferença entre os argumentos indutivos e dedutivos é o relacionamento entre as premissas e a conclusão. Num argumento indutivo a premissa serve para tornar provável a conclusão. Quando o argumento é válido e as premissas são verídicas, as premissas garantem a veracidade da conclusão num argumento dedutivo.
Enquanto o filósofo está preocupado com a forma e a veracidade dos seus argumentos, colocando-os em uma forma silogística, a maioria de nós se preocupa com a lógica num senso mais informal.

Augusto Bello de Souza Filho
Bacharel em Teologia