Nas tradições pagãs (algumas das quais influenciaram os judeus de tempos posteriores), os anjos eram, às vezes, considerados divinos, e outras vezes, fenômenos naturais. Eram seres que faziam boas ações em favor das pessoas, ou eram as próprias pessoas que praticavam o bem; tal confusão está refletida no fato de que tanto a palavra hebraica “mal’ãkh”, quanto a grega “angelos” têm dois sentidos. O significado básico de cada uma delas é “mensageiro”. Mas este mensageiro, (dependendo do contexto) pode ser um mensageiro humano comum, ou um mensageiro celestial, um anjo. Alguns, com base na teoria da evolução, fazem a ideia de anjos remontar ao início da civilização. “O conceito de anjos pode ter evoluído dos tempos pré-históricos quando, então, os seres humanos primitivos emergiram das cavernas e começaram a erguer os olhos aos céus… A voz de Deus já não era a rosnada da floresta, mas o estrondo do céu”. Segundo essa teoria, desenvolveu-se um conceito de anjos que servissem à humanidade como mediadores de Deus. O conhecimento genuíno dos anjos, no entanto, veio somente através da Revelação Divina.

Posteriormente, os assírios e os gregos deram asas a alguns desses seres semidivinos. Hermes tinha asas nos calcanhares. Eros, “o espírito voador do amor apaixonado”, tinha asas afixadas aos ombros. Num tom bastante divertido, os romanos inventaram Cupido, “o deus do amor erótico”, retratado como um garoto brincalhão que atirava flechas invisíveis para encorajar romances. Platão (cerca de 427- 347 a.C.) também falava de “anjos da guarda”. As Escrituras Hebraicas atribuem nomes a somente dois anjos: Gabriel, que iluminou o entendimento de Daniel (Dn 9.21-27), e o arcanjo Miguel, o protetor de Israel (Dn 12.1).

A literatura apocalíptica não-judaica posterior, tal como Enoque (105-64 a.c) também reconhecem que anjos ajudaram na promulgação da lei de Moisés. O livro apócrifo de Tobias (200-250 a.C.), porém, inventou um arcanjo chamado Rafael que, repetidas vezes, ajudou Tobias em situações difíceis. Realmente, só existe um arcanjo (anjo principal), que é Miguel (Jd 9). Mais tarde, Filo (20 a.C. à 42 d.C.), o filósofo judaico de Alexandria, no Egito, retratou os anjos como mediadores entre Deus e a raça humana. Os anjos, criaturas subordinadas, habitavam nos ares como “os servos dos poderes de Deus”. “Eram almas incorpóreas sendo totalmente inteligentes em tudo e possuindo pensamentos puros”.

Durante o período do Novo Testamento, os fariseus acreditavam que os anjos fossem seres sobrenaturais que, frequentemente, comunicavam a vontade de Deus (At 23.8). Os saduceus, todavia, influenciados pela filosofia grega, diziam: “não há ressurreição, nem anjo, nem espírito” (At 23.8). Para eles, os anjos não passavam de “bons pensamentos e intenções” do coração humano.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os pais da igreja pouco disseram a respeito dos anjos. A maior parte de sua atenção era dedicada a outros assuntos referentes à natureza de Cristo. Mesmo assim, todos acreditavam na existência dos anjos. Inácio de Antioquia, um dos primeiros pais da igreja, acreditava que a salvação dos anjos dependia do sangue de Cristo; Orígenes (182 – 251 d.C.) declarou a impecabilidade dos anjos, afirmando que, se foi possível a queda de um anjo, talvez seja possível a salvação de um demônio. Semelhante posicionamento acabou por ser rejeitado pelos concílios eclesiásticos; Já em 400 d.C., Jerônimo (347 – 420 d.C.) acreditava que anjos da guarda eram dados aos seres humanos quando do nascimento destes; Posteriormente, Pedro Lombardo (100 – 160 d.C.) acrescentou que um único anjo podia guardar muitas pessoas de uma só vez;  Dionísio, o Areopagita, (500 d.C.) contribuiu notavelmente para o estudo dos anjos. Ele retratou o anjo como “uma imagem de Deus, uma manifestação da luz oculta, um espelho puro, brilhante, sem defeito, nem impureza, ou mancha”; 

Semelhantemente Irineu, quatro séculos antes (130 – 195 d.C.), também construiu hipóteses a respeito de uma hierarquia angelical; Depois, Gregório Magno (540-604 d.C.) atribuiu aos anjos corpos celestiais.

Ao raiar do século XIII, os anjos passaram a ser assunto de muita especulação. O teólogo italiano Tomás de Aquino (1.225 – 1.274 d.C.) formulou perguntas muito relevantes a respeito. Sete das suas 118 conjeturas sondavam as seguintes áreas: a) De que se compõe o corpo de um anjo? Há mais de uma espécie de anjo? b) Quando os anjos assumem a forma humana, exercem funções vitais do corpo? c) Os anjos sabem quando é manhã e quando é entardecer? d) Conseguem entender muitos pensamentos ao mesmo tempo? e) Conhecem nossas intenções secretas? f) Têm capacidade de falar uns com os outros?

Mais descritivos foram os retratos pintados pelos renascentistas; representavam os anjos como “figuras varonis … crianças tocando harpas e trombetas, bem diferentes de Miguel, o arcanjo”. Retratos pintados com péssimo gosto como “cupidinhos gorduchinhos”, com muito colesterol, vestidos com pouca roupa, estrategicamente colocados, essas criaturas eram frequentemente usadas como friso artístico. O cristianismo medieval assimilou a massa de especulações, e, como conseqüência, começou a incluir a adoração aos anjos em suas liturgias, essa aberração continuou crescendo, levando o Papa Clemente X (1670 – 1676 d.C.) a decretar uma festa em homenagem aos anjos. A despeito dos excessos católicos romanos, o Cristianismo Reformado continuou a ensinar que os anjos ajudam o povo de Deus.

João Calvino (1509 – 1564 d.C.) acreditava que “os anjos são despenseiros e administradores da beneficência de Deus para conosco… Mantêm a vigília, visando a nossa segurança; tomam a seu encargo a nossa defesa; dirigem os nossos caminhos, e zelam para que nenhum mal nos aconteça”. Martinho Lutero (1483 – 1546 d.C.) em “Conversas à Mesa”, falou em termos semelhantes. Observou como esses seres espirituais, criados por Deus, servem à Igreja e ao Reino. Eles ficam muito perto de Deus e do cristão. “Estão em pé diante da face do Pai, perto do sol, mas sem esforço vêm rapidamente socorrer-nos”.

Na Era do Racionalismo (cerca de 1800 d.C.), surgiram graves dúvidas contra a existência do sobrenatural; os ensinamentos historicamente aceitos pela Igreja começaram a ser reexaminados. Como consequência, alguns céticos resolveram chamar os anjos “personificações de energias divinas, ou princípios bons e maus, ou doenças e influências naturais”.

Já em 1918, alguns eruditos judaicos começaram a ecoar a voz liberal, afirmando que os anjos não eram reais, pois eram desnecessários. “Um mundo de leis e de processos não precisa de uma escada viva para levar-nos da Terra até Deus, nas alturas”. Isso não abalou a fé dos evangélicos conservadores que continuam a confirmar a validade dos anjos.

Autor: Stanley Horton – Teologia-Sistemática