O TRABALHO MISSIONÁRIO NA AMÉRICA LATINA

No século XIX o protestantismo despertou de sua inatividade e deu início a uma intensa obra missionária na América Latina, com a implantação de muitas denominações nessa época.
Em termos humanos, a entrada do protestantes na América Latina dependeu das pressões econômicas aplicadas externamente pela Inglaterra e Estados Unidos, e também de pressões ideológicas liberais e anti-clericais internas. O protestantismo teve um início audacioso com a chegada do educador James (Diego) Thompson em 1819 na Argentina e com a concessão da liberdade de culto aos estrangeiros no Brasil em 1823. O crescimento foi bastante demorado e a resistência Católica foi grande durante todo o século XIX. Somente no século XX, a partir da 2ª Grande Guerra o protestantismo veio a ter influência e começou a colheita do que foi semeado no século anterior.
A penetração do protestantismo na América Latina no século XIX faz parte do que Latourette chamou de “O Grande Século do Avanço Missionário”, e ao qual ele dedicou três dos sete volumes de sua obra. A history of the Expansion of Christianity (Uma História da Expansão do Vristianismo).
O protestantismo implantado dava mais ênfase a doutrina correta e ao compromisso pessoal do indivíduo. Embora todo tipo de protestantismo tenha buscado fazer um lugar para si mesmo. Os que colocaram maior ênfase na evangelização, juntamente com o compromisso pessoal de mudança do comportamento, cresceram mais rapidamente.

1. Origens do protestantismo na América Latina

James (Diego) Thompson, um pastor batista, foi para a Argentina com o objetivo de fundar ali escolas usando o método pedagógico de Lancaster. Basicamente esse método possuía dois pontos positivos que o adequavam perfeitamente ao trabalho missionário. Em primeiro lugar, fazia uso dos melhores alunos para ensinar os principiantes. Segundo, utilizava-se de passagens das escrituras como textos para ensinar gramática e alfabetizar. Portanto, esse era um método fácil para ensinar a Bíblia e transmitir aos alunos o conteúdo da Revelação. A fama de Thompson espalhou-se rapidamente através da América espanhola. Ele estabeleceu 100 escolas Lancaster só em Buenos Aires.
O protestantismo na América Latina no século XIX, colocou muita ênfase na evangelização e compromisso pessoal (mudança comportamental).

2. Convenções que trabalharam na América Latina

As denominações que começaram seu trabalho na América Latina foram os Anglicanos, Luteranos, Irmãos (Plymouth), Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Menonitas e Adventistas (Sétimo Dia). As missões anglicana, luterana e menonita trabalharam quase exclusivamente com os emigrantes que determinaram tanto a forma cultural quanto a extensão do alcance dessas denominações. As demais trabalharam com os nativos em sua própria linguagem e cultura, embora quase sempre houvesse uma imposição inconsciente do lastro cultural e expectativas do missionário.
O Catolicismo Romano não foi muito simpático com o avanço missionário protestante. Os três séculos de Padroado não se prestaram à introdução do pluralismo religioso. Com exceção da primeira metade do século XIX, quando houve relativa aceitação dos missionários principalmente no Brasil. No mais havia muita intolerância e perseguição. Os protestantes encontraram aliados e até protetores entre os políticos liberais, o que provocou reação ainda mais forte entre os “ultramontanistas” do clero. Principalmente no Brasil, onde a hierarquia do clero temia pela protestanização do país através da imigração.
Como resultado desses conflitos, o protestantismo da América Latina assumiu um perfil anti-católico.
Os primeiros brasileiros presbiterianos são conhecidos pela sua polêmica com o jesuíta Leonel Franca. Em certos momentos a literatura de homens como Álvaro Reis, Eduardo Carlos Pereira, Ernesto Luiz de Oliveira, colocaram o debate num plano acadêmico elevado que não podia ser desprezado como as escrevinhações de hereges ignorantes. Mesmo assim, os evangélicos foram tentados a levarem uma vida de refúgio sob a proteção de comunidades tipo “gueto”, de onde se afastavam somente para ir em busca de novas conversões. E o que foi muito notável é que o mais simples ou mais humilde entre os crentes que estudara a Bíblia apenas na Escola Bíblica Dominical, era capaz de defender a sua fé diante de sacerdotes e do povo com argumentos ousados e sedimentados na palavra de Deus.
Outro fato significativo na história dos primórdios do protestantismo latino-americano, foi que a evangelização teve início associada à venda de Bíblias e a alfabetização de novos convertidos. As pessoas se convertiam, compravam Bíblias e como não sabiam ler ou escrever, se dedicaram a alfabetização para se dedicarem à leitura das Sagradas Escrituras. Estas característica no seio do protestantismo era tão forte que os crentes passaram a ser chamados de os “Bíblias”. A venda de Bíblias pelos que anunciam a Palavra ainda é comum em nossos dias, porque as Bíblias continuam sendo vendidas em todo o território nacional, principalmente pelos evangelistas que as comercializam para a sua sobrevivência e a de seus familiares, bem como para financiar as viagens e outras despesas. É uma forma de manter a evangelização viva e atuante.

3. Implantação

Foram dois os incidentes que se destacaram no rompimento eventual do monopólio católico-romano. A pressão externa aplicada pela Inglaterra, forçando um tratado com o Brasil e o outro foi a nomeação de Diego Thompson em 1819 como diretor da educação primária na Argentina, feita pelo governo sob orientação dos liberais. A Grã-Bretanha forçou as portas da colônia portuguesa. No início do século XIX caiu o Império Português. A Inglaterra tornou-se senhora dos mares, ao destruir as armadas francesas e espanholas. A Inglaterra forçou o governo Português sediado no Rio de Janeiro, a abrir os portos brasileiros ao comércio mundial. Em tratado assinado com a Inglaterra em 1810, o Governo Português se comprometeu a permitir a construção de casas de adoração para os estrangeiros, contanto que não tivessem a aparência de igrejas. Era proibido colocar-se a cruz nas construções.
Na Constituição de 1823 foi acrescentado o direito de liberdade de culto e a manutenção de cemitérios protestantes. Os anglicanos foram os primeiros a construírem um templo na América do Sul em 1819. O anglicanismo limitou-se mais à comunidade inglesa, sendo que a partir de 1889 passou a ter um lento crescimento.
Enquanto isso na Argentina James Thomson, um pastor batista, fundou escolas e com base no método pedagógico de Lancaster, em sua essência, adequando ao trabalho missionário. Desta forma fazia uso dos melhores alunos para ensinar aos principiantes. E, utilizava as passagens bíblicas como textos para ensinar gramática e alfabetizar.
A implantação definitiva do protestantismo na América Latina dependeu de um avanço duplo da imigração e dos missionários. Sendo que esse avanço ocorreu em maior parte na segunda metade do século XIX depois das mudanças sócio-políticas terem aberto as portas para o testemunho evangélico. A partir de meados de 1940, o protestantismo avançou rapidamente na América Latina, especialmente no Brasil.
Não enfatizamos neste estudo os aspectos doutrinários da implantação da igreja na América Latina. Mas é certo que todo esse período de formação do protestantismo latino, os missionários introduziram uma teologia conservadora baseada nas Escrituras como norma de fé.
O protestantismo latino-americano do século XIX brilhou nos campos da educação e da medicina. Berçários e orfanatos foram fundados em grande número.
Não mencionei nomes de missionários para não tornar o trabalho muito técnico. Porém, para finalizar quero mencionar informações sobre o número de missionários, segundo a Missão Informadora do Brasil.

Missionários na América Latina

ANO AMÉRICA LATINA BRASIL
1903 1.438 300
1920 – 600
1940 2.951 400
1950 4.488 500
1960 – 1.000
1970 11.363 2.990
1980 – 2.388

Augusto Bello de Souza Filho
Bacharel em Teologia

BIBLIOGRAFIA:

– L. Gonzalez, Justo, Uma História Ilustrada do Cristianismo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova,
São Paulo – SP, 1991.

– E. Cairrns, Earle, O Cristianismo Através dos Séculos, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1992.

– Walker, Williston, História da Igreja Cristã, Juerpe/Aste, 3ª Edição, 1981.