Separados! somos separados?

Deus, o Criador, se apresenta como o Deus que separa. O Deus que faz separação. Faz separação “entre a luz e as trevas”, “entre águas e águas”, “entre o dia e a noite”. E Deus cria também sinais de separação. Em Gênesis 1:14-18, podemos entender que antes mesmo da criação do sol, já havia luz, e o sol foi criado para fazer “…separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais… Deus fez os dois grandes luzeiros… para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas.”
Será que podemos ligar toda esta apresentação bíblica, considerada simbólica ou não, há realidade cristã que deve ser vivenciada? É claro que sim. Há um evidente atuar de Deus em toda história humana nos mostrando que Ele faz a separação. Talvez fosse melhor dizermos que Ele é esta separação. Ele é o diferencial. Nós é que teimamos em fazer mistura. Mas nosso Deus não é eclético.
Recordo-me que um dia Deus ouviu o clamor do seu povo sofrendo no Egito. Ele usou Moisés para liderar a libertação por meio de sinais e pragas. Quando Moisés perguntou a Deus o que ele deveria responder aos Israelitas quando perguntassem quem o enviou, o Senhor mandou que ele respondesse: “EU SOU me enviou a vós outros” (Êx. 3:14). Ele provaria àquela grande nação e ao seu próprio povo que Ele é a diferença.
Com a instituição da páscoa e a 10a. praga, de forma muito clara, Deus também prova que Ele faz separação entre os que são e os que não são dEle. Deus institui a páscoa e ordena que todas as famílias israelitas imolem um cordeiro e que tomem do seu sangue e marquem as portas de suas casas. Desta forma, a décima praga não atingiria aquela casa e Deus diz em Êxodo 11:7: “para que saibais que o Senhor fez distinção entre os egípcios e os israelitas”. Deste acontecimento narrado na Bíblia, podemos tirar várias lições e queremos citar algumas delas:

Não existe separação parcial.

Deus manda que as duas ombreiras e a verga da porta sejam marcadas com o sangue. Ou seja, se seu corpo é o templo do Espírito Santo de Deus, não pode estar só com a verga ou os umbrais marcados. Porta representa a entrada, porque sua definição essencial é abertura para passagem ou acesso. Não existe porta meio fechada. Porta encostada é porta aberta. Basta um leve vento para ela expor seus proprietários. Da mesma forma não existe porta meio marcada. Se você não marcar devidamente a sua porta quem passar e vê-la, imaginará que você desistiu de marcá-la.
Mas qual porta deve ser marcada com o sangue? Será que podemos marcar a porta de serviço? Aquela que dá para o quintal? Aquela que só os íntimos da família conhecem? Acho que não.

Deve existir o sinal da separação.

Naquela noite o anjo do Senhor passou e olhou para as portas das casas. Aquelas que estavam marcadas ele não entrou para ferir aos primogênitos. Marcar-se somente a porta do fundo é não querer que Deus e os passantes percebam o sinal do sangue.
Ora, não era necessário entrar na casa para saber-se se aquela família era separada ou não. Em Êxodo 12:13, Deus diz: “O sangue vos será por SINAL nas casas em que estiverdes…”. Precisamos parar e nos perguntar: – “minha vida tem SINAL de sangue?” Sangue que me redime e me faz diferente – separada por Deus? Será que Deus olha para minha casa e vê a Sua marca em mim? E se eu não marcar minha porta? A Bíblia diz que ainda o sol não havia nascido e “…fez-se grande clamor no Egito, pois não havia casa em que não houvesse morto.” Misericórdia! É isso que acontece com as vidas que não são marcadas pelo sangue. Há choro, há desespero, há morte. Morte espiritual, morte dos sonhos, morte do prazer de viver, morte da comunhão com Deus.

Não podemos ser hoje separados e amanhã voltarmos à “mistura”.

Moisés recomendou ao povo que durante aquela noite ninguém saísse de sua casa até que o dia amanhecesse. Não existe oscilação na separação para Deus. Não podemos abandonar o sinal do sangue em nossas vidas e depois retomá-lo. Não podemos marcar e desmarcar nossas portas. “Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontra os caminhos aplanados…” (Salmos 84-5). Não podemos levar nossas vidas com Deus entre altos e baixos. Certamente teremos muitas aflições, Jesus mesmo nos advertiu, mas Ele nos disse para termos bom ânimo. Passemos pelas montanhas e pelos vales, mas sem perder o ritmo em nossa corrida. Teremos que passar por vales por isso lembre-se que a descida é muito confortável, mas subir é um grande esforço. Se há muito descanso em nosso caminho, significa que há pouco preparo. Uma vez estando no vale será que conseguiremos subir de novo? Vou dar a seguinte dica: se estiveres sentindo que vai descer a um vale, corra, corra muito mesmo a carreira que te está proposta. Se embale para poder subir o mais rápido possível para o cume e assim abreviará o tempo que tiver de ficar no vale.

As marcas que deixamos dizem quem somos.

No dia seguinte à saída dos israelitas as portas ainda estavam marcadas com o sangue ainda estavam lá. Agora passam a ser sinal, para toda a nação egípcia, que a lembrará que ali morou o povo do Deus Vivo, do Deus Todo-poderoso. Que tipo de sinal temos deixado por onde temos passado? Nossos sinais dizem que somos filhos de Deus? Ou será que corremos o risco de ouvir alguém dizer: “Nossa, você não parece nem um pouquinho com o seu pai!”.
Jesus passou entre nós pouco mais de 30 anos, mas foi tempo suficiente para deixar marcas, da mesma forma que o povo de Deus deixou no Egito. Existem pegadas, existe sangue marcando o chão, existem sinais marcando as mãos e os pés de Jesus. Marcas de separação. Sinais de quem é Santo, sinais de quem é separado.
É bom notar que a Bíblia começa com separação entre luz e trevas, entre dia e noite. Santificação quer dizer separação. Santificação é um processo que deixa marcas. Marcas na vida de quem se santifica. E o santificado deixa marcas por onde passa.
Deus mesmo quando nos separa se encarrega de nos marcar. O processo de “sinalização” de que somos de Deus, dói mas não machuca, transforma mas não destrói. E nesta caminhada com Cristo, o Espírito Santo nos incomoda com uma coisinha aqui, outra ali, uma “coisona” aqui, outra ali. E assim somos modificados, marcados, separados, transformados, sinalizados todos os dias.

Para sermos separados temos que sacrificar.

No Egito cada casa israelita sacrificou um cordeiro para marcar a porta. Há um sacrifício, há um derramamento de sangue. De início nos parece terrível ter que sacrificar alguma coisa. Sacrifício é um processo extremamente doloroso. Mas, depois do sacrifício somos separados, marcados para Deus. Passamos a perceber que não podemos fazer mais nada além de agradecer ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos tirou das trevas para o reino de sua maravilhosa luz. A alegria da santificação e da comunhão com Deus apaga as lembranças do nosso sacrifício. Até porque apenas o maior de todos os sacrifícios, e apenas ele, era realmente capaz de nos unir a Deus, e este sacrifício já foi feito por Jesus. Deus mandou seu único filho para se fazer nosso cordeiro pascoal, e com seu sangue marcar nossas vidas para sempre. Jesus “…subistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Filip.2:6-8).
Que as marcas que levamos em nossas vidas e aquelas que deixamos por onde passamos sejam sinais de que somos realmente diferentes. Povo separado, povo amado do Senhor. Só assim nossas vidas louvarão e glorificarão o nome que está acima de todo nome, o nome de Jesus Cristo, autor e consumador de nossa fé.
Que sejam sinais do sangue vertido na cruz, sangue que nos tirou da escravidão do pecado e nos trouxe para a liberdade em Cristo Jesus. Desta forma, muitos podem vir a seguir os sinais deixados por nós e cheguem ao pleno conhecimento da verdade que está em Jesus. Termino lembrando que a palavra santo quer dizer separado. E lembro também, que sem santificação ninguém verá ao Senhor. Releia este texto se possível for, tendo em mente estas duas últimas considerações. E, por fim, “examine o homem a si mesmo” I Cor 11-28. Que Deus nos abençoe.

Fabiane Rocha Bello